A chatice da palavra 'TIA'

Por Tais Luso de Carvalho, em seu blog.
Sempre achei esquisita, forçada e infantil essa coisa chata de tia, nome dado às professoras de nossos filhos. Que tia? Por que tia? Por que esta falsa intimidade? Tudo soa muito estranho: na semana passada uma sobrinha mandou a tia para o hospital, com traumatismo craniano, e ainda insistem neste falso tratamento. Há meses outra tia levou uns paratequieto na escola, e foi parar no Pronto Socorro.

Professoras são mestres e deveriam ser reconhecidas pela sua capacidade de ensinar; deveria partir delas cortar a tia. Isso tira a autoridade, fica aquela coisa de titia boazinha; as tias sempre são queridas! A criança deve aprender a lidar com suas carências e inseguranças em casa, junto à família ou numa psicoterapia, não numa sala de aula. Ali ela vai para aprender não só as matérias específicas como também disciplina. E tia é como avó, não ensina ninguém, só dá amor e carinho.

Será que não deu pra ver, ainda, que escola e família são duas coisas distintas? Que a professora, terminando a aula está ansiosa para ir para casa, para sua família? Ver seus filhos e seus sobrinhos verdadeiros? E que o aluno adolescente a chama de tia na gozação? E que onde há muita liberdade cai o respeito? Professora não é da família, portanto não é tia.

É bom para o aluno sentir firmeza numa professora, não numa tia. Eu tive ótimas professoras, e como era saudável para nossa formação respeitá-las. Era ótimo quando via minha professora no estrado, defronte ao quadro negro, e nós sentados na classe levantando o braço para pedir a palavra. A bagunça acabava quando ela entrava.

Se não houver respeito de ambas as partes, nada feito: e para haver respeito tem de haver uma certa distância. Professor é professor e aluno é aluno. Sempre foi assim e deu certo.

Ninguém vai para uma escola atrás de carências afetivas: vamos pra aprender, para conviver com nossos colegas, passar de ano e pegar o canudo. E levar na lembrança, a imagem da professora querida que cumpriu seu papel de mestra.

Mas hoje a moda é ser tia e tio; todos somos tios ou tias de alguém, mesmo sabendo que soa falso: sou tia do nenê da dona da lavanderia, do flanelinha da minha rua, do malabarista do semáforo, do vendedor de pastéis, balas e pirulitos.

Sou também tia dos sobrinhos das vizinhas. Nem eu entendo isso. É um parentesco que me confunde. Não sei, realmente, quando começou esta história, mas está se alastrando para os confins! Gostaria de saber seu real significado. Carinho? Moda? Vício de linguagem?

Lamento, mas não consigo ter a mínima queda para ser tia de estranhos. Nem engraçado consigo achar. E olha que tentei entrar na onda!
 
Fonte: O MOCORONGO

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