Tucunaré, pirarucu contaminados? O que dá pra rir dá pra chorar


Uma pesquisa realizada pelo Grupo de Ecologia Aquática da Universidade Federal do Pará (UFPA) em parceria com o Instituto Evandro Chagas mostra que algumas espécies de peixe consumidos em mercados e feiras de Belém e de outros municípios apresentam alto teor de mercúrio, em níveis acima da quantidade consideradas toleráveis pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Fotos: Manuel Dutra
Tucunaré do Baixo Amazonas, à venda no Mercadão, em Santarém
Segundo a pesquisa a contaminação de mercúrio encontra-se em espécies como tucunaré, cação, pescada branca e tainha-curimã, espécies topos de cadeia e comuns na mesa do paraense. De acordo com o professor Tommaso Giarrizo, coordenador da pesquisa, o trabalho foi realizado com amostras de 110 espécimes, pertencentes a 28 espécies.
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Linha do Tempo
Há 25 anos eu mostrei, nas páginas de O Liberal, de Belém, a grave contaminação de algumas espécies de peixes dos rios paraenses, notadamente aqueles da bacia do Tapajós, em decorrência do largo emprego de mercúrio nas centenas de garimpos da região Oeste do Pará.

Esta semana, um quarto de século depois, pesquisadores da Universidade Federal do Pará e do Instituto Evandro Chagas reafirmam o que pesquisadores de 25 anos atrás disseram: a população está correndo riscos de saúde por causa do hábito arraigado de comer pescado. Uma comida que tem tudo para ser a mais sadia, pode trazer também riscos; se não mata de imediato, pode causar problemas irreversíveis de saúde, comprometendo o sistema nervoso central dos humanos, dependendo dos níveis da contaminação. 
Pirarucu, exposto à venda no Ver-o-Peso, em Belém
Naquele ano de 1987, o título da reportagem que produzi era "Mercúrio, o desastre já começou". Na introdução da matéria, eu coloquei um breve trecho do livro do Apocalipse: "... A terça parte das águas converteu-se em absinto e muitos homens morreram por causa daquelas águas, porque se tornaram amargosas” (Apocalipse). Será esse o nosso destino, contraditoriamente na Amazônia com tanta fartura de milhares de espécies de peixes de aparência sadia?
Surubim, uma das espécies mais consumidas na Amazônia. Quase nunca falta nas feiras. Este da foto foi vendido no Mercadão, em Santarém
Outro trecho daquela reportagem dizia algo semelhante ao que hoje dizem os cientistas:

"É certo que hoje (dezembro de 1987) uma parte da população dos municípios de Itaituba, Aveiro e Santarém está comendo peixe contaminado pelo metilmercúrio, o veneno decorrente das transformações químicas que o metal sofre após a manipulação, embora a fauna, como um todo, não esteja ainda afetada em níveis superiores ao que suporta o organismo humano ...Um exame laboratorial realizado na semana passada revelou que um tucunaré, capturado no Tapajós, perto de Santarém, apresentava contaminação mercurial, embora em níveis aceitáveis, segundo parâmetros estabelecidos em alguns países desenvolvidos.

Há menos de um mês, outro exame efetuado em cinco amostras de peixes capturados um pouco acima de Itaituba, revelou que a carne de um pirarucu apresentava 1.088 ppb (partes por bilhão) de mercúrio, isto é, mais que o dobro do aceitável para consumo humano, que é de 500 ppb, conforme a literatura a respeito do assunto. O problema ainda é muito pouco pesquisado no Brasil (em 1987), mas é aceito o princípio segundo o qual nos peixes contaminados é encontrada uma variação que pode ir de 10% a 80% de metilmercúrio, a forma mais perigosa do mercúrio, capaz de devastar o organismo humano"
              
2013
Esta semana, abril de 2013, a mesma denúncia, justamente num momento em que a garimpagem retorna com força total ao vale do Tapajós/Jamanxim, juntamente com os projetos de construir sete hidrelétricas. E pior: o governo do Estado, por meio da Secretaria de Meio ambiente, já disse que vai legalizar a ação das enormes dragas que invadiram o território paraense de modo ilegal.
 A notícia que saiu esta semana: 
Uma pesquisa realizada pelo Grupo de Ecologia Aquática da Universidade Federal do Pará (UFPA) em parceria com o Instituto Evandro Chagas mostra que algumas espécies de peixe consumidos em mercados e feiras de Belém apresentam alto teor de mercúrio, em níveis acima da quantidade consideradas toleráveis pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Segundo a pesquisa a contaminação de mercúrio encontra-se em espécies como tucunaré, cação, pescada branca e tainha-curimã, espécies topos de cadeia e comuns na mesa do paraense. De acordo com o professor Tommaso Giarrizo, coordenador da pesquisa, o trabalho foi realizado com amostras de 110 espécimes, pertencentes a 28 espécies, em alguns mercados de Belém.

Embora todas as espécies tenham registrado algum teor de mercúrio, quatro delas apresentaram contaminação de mercúrio com nível bem acima de 0,5 mg/kg, nível máximo estabelecido pela OMS. Os limites de concentração em peixes como os sugeridos pela ANVISA e OMS só fazem sentido se associados a uma taxa de consumo de peixe.

O limite de 0,5 mg/kg sugerido pela OMS, por exemplo, aplica-se para um consumo de até 400 gramas de peixe por semana para um adulto de 60 quilos. Adicionalmente, a ingestão de peixe varia muito nos municípios paraenses, de acordo com o nível sócio-econômico e os hábitos individuais. Portanto, os limites de ANVISA e OMS deveriam ser associados a dieta semanal/diária de pescado levando em consideração a quantidade e tipo de pescado.

Ainda segundo o professor, as espécies cação e tucunaré apresentaram os níveis mais altos que o limite estabelecido pela legislação brasileira para peixes predadores, os quais são definidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 1mg/kg. A contaminação atinge principalmente espécies carnívoras como o cação, a pescada branca e o tucunaré, por causa de sua posição trófica, ou seja: são peixes que se alimentam de outros igualmente contaminados e assim vão somando teor mercurial ao longo da vida, uma vez que o material é bioacumulável.

O Dr. Marcelo Lima, colaborador do projeto, acrescenta que os níveis encontrados de mercúrio no peixe é o mesmo encontrado em outras bacias amazônicas nos últimos anos, como já relatados em estudos anteriores da Seção de Meio Ambiente (SAMAM) do Instituto Evandro Chagas (IEC), pois existem resultados que apontam níveis ainda mais altos que os valores encontrados.

Problemas
O mercúrio é capaz de causar danos irreversíveis ao sistema nervoso central do ser humano levando a sintomatologias como tremores, perda de memória, dificuldades de audição, visão com redução do campo visual e do desempenho psicomotor e dificuldades motoras.

A pesquisa coordenada pelo Professor Dr. Tommaso Giarrizzo, foi realizada por uma aluna do curso em ciências biológicas da UFPA, Juliana Araújo, que integra o Grupo de Ecologia Aquática e Pesca da UFPA com a colaboração do Dr. Marcelo Lima do Instituto Evandro Chagas.
Fonte: UFPA

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