Reis da música brega permanecem ativos e lançam discos em 2012

 

Antigos sucessos influenciam nova geração de cantoras da MPB.
Com novo CD, Odair José estreia série do G1 sobre os ícones da vertente

Especial do G1 relata a trajetória dos reis da música brega e mostra como esses ícones vivem hoje (Foto: Sandro Melo)Especial do G1 relata a trajetória dos reis da música brega (Ilustração: Sandro Melo)
À exceção de Lindomar Castilho e Nelson Ned, que hoje vivem para cuidar da própria saúde, Sidney Magal, Odair José, Agnaldo Timóteo e Beto Barbosa lançam novos discos ou singles no mercado neste primeiro semestre de 2012. Ao longo desta semana, o G1 publica uma série de entrevistas com sete cantores que fizeram sucessos estrondosos com hits que falam sobre amor de forma simples - melosas ou dançantes, mas sem firulas. O cantor e compositor Odair José abre o especial.
A música brega precisou de tempo para começar a perder o verniz de subcultura. Hoje, não raro é reverenciada por cantoras da nova safra da MPB. Em seus recentes trabalhos, Mariana Aydar, Marina de la Riva e Céu se disseram influenciadas pela dor de cotovelo, tema recorrente dos boleros românticos. A roqueira Pitty já manifestou ao compositor Odair José o desejo de regravar suas canções.
O tema também ganhou status de requinte em festivais de cinema internacionais. Ana Rieper arrematou prêmios com “Vou rifar meu coração”, documentário que narra a importância das músicas românticas na vida da população. Independente da associação de classe, a diretora acredita que não há razão para que um produto genuinamente brasileiro permaneça sendo adjetivado de forma negativa.
“Eles foram os pioneiros. Permanecem no imaginário afetivo das pessoas, principalmente no Recife e em Alagoas, onde filmamos as histórias. As pessoas cantam até hoje. A essência do brega é a obra desses músicos. Mas ainda costumam associar o gosto popular ao duvidoso, e não aceitá-lo como algo legitimo.”

 

'Faço boleros, assim como Beatles e Roberto Carlos', afirma Odair José

Cantor diz que o brega não é vertente, muito menos seu estilo musical.
Produzido por Zeca Baleiro, ele lança ‘Praça Tiradentes’, seu 35° álbum.

Lívia Machado Do G1, em São Paulo
 (Foto: Arte G1)
Odair José tem um repertório de mais de 400 músicas lançadas, o suficiente, segundo ele, para uma estabilidade financeira que permite gravar apenas o que gosta - uma liberdade autoral que poucos artistas podem alegar honestamente que têm. Justamente por isso, ficou cinco anos sem produzir um disco de inéditas. Estimulado (e convencido) por Zeca Baleiro, músico e amigo, ele lançou neste mês "Praça Tiradentes", seu 35° álbum.
"Existe inspiração do compositor. Eu estou lançando um CD depois de cinco anos. Já gravei 34 discos e fiz mais de 400 músicas. Não preciso ficar recriando minha história", assevera ele.
(Ao longo desta semana, o G1 publica uma série de entrevistas com sete ícones da música brega. Famosos há 5 décadas, eles permanecem lançando CDs e hoje são reverenciados pela nova geração de cantoras da MPB)
Em 1970, Odair apimentou a dor de cotovelo, senso comum nas canções românticas, ao falar sobre anticoncepcional e prostitutas. É autor de sucessos como "Cadê você", que voltou a ser hit em 90 na voz da dupla Leandro e Leonardo. Por todos os feitos na cultura popular, foi chamado de “cantor das empregadas domésticas” e “Bob Dylan da Central do Brasil”. Nenhum dos codinomes o agrada.
“Nunca entendi essa comparação. Bob tem letras fantásticas, está acima de 10 Chicos Buarques. Eu não tenho essa capacidade. Faço boleros, assim como os Beatles e o Roberto Carlos. Se Paul McCartney fosse brasileiro, também teria sido tachado de brega.”
Na visão do cantor, suas composições não alcançaram apenas um extrato social. Usou como matéria-prima os temas de uma época e se define como “cronista da realidade”. Para ele, difícil não é compor com requinte. “O complicado mesmo é fazer o povo sair cantando e não esquecer o que você produziu. Música elaborada é muito mais fácil de fazer.”
Embora não se incomode em ser reconhecido como um dos reis do brega, não acha que o adjetivo seja sinônimo de uma vertente musical. Na visão do cantor, ele e os demais foram jogados em um balaio sem sentido e preconceituoso. Intelectuais e críticos desqualificaram o trabalho que fazia por conta da penetração de suas canções na baixa renda.
“Brega é uma coisa mal feita, sem qualidade, e isso tenho certeza não faço. Já fui cantor das prostitutas, das empregadas. Eu apenas faço meu trabalho e sempre quero que seja bem feito. Minha música é simples, entendida e aceita por um público também simples. É muito mais difícil ser cantor de brega do que de bossa nova.“
Odair José (Foto: Divulgação)Odair José condena os balaios criados por críticos para definir as produções nacionais  (Foto: Divulgação)
Tabus
Sem formação específica, Odair aprendeu a ser músico e compositor sozinho, ou “na rua”, onde acredita ter sido formado. Ao cantar em bares e bordéis, conheceu e conviveu com todo tipo de público. Uma de suas canções mais famosas, “Vou tirar você deste lugar”, sucesso nos anos 70, conta a história do que via ao se apresentar em boates no Rio de Janeiro.


“Era comum, eu sabia de muitos casos de homens que se apaixonavam por prostitutas e sonhavam em se casar com elas, tirá-las dessa vida. Compus baseado no que eu via, ouvia enquanto trabalhava.”
Como a maioria dos cantores românticos, defende que é preciso sentir para escrever e tocar, mas nem sempre suas letras refletem um episódio pessoal. Ele afirma que tem um carinho muito especial pelas prostitutas e não nega que também tenha se envolvido com algumas durante a vida, mas garante que seu maior sucesso não é autobiográfico. (No vídeo, Odair comenta sobre seu processo de composição em entrevista ao programa Fantástico em outubro de 1975).
“Toquei em tudo quanto é boate no Rio. Naquela época não tive relação com nenhuma moça porque eu era apenas o cara do violão. Não tinha dinheiro para ficar com nenhuma delas. Posteriormente, sim.”
Capa do novo disco de Odar José (Foto: Divulgação)Capa do novo disco de Odar José (Foto: Divulgação)
Autobiografia
Produzido pelo persuasivo Zeca Baleiro, quem convenceu Odair a lançar um novo disco de inéditas, o trabalho durou dois anos e apresenta duas parcerias entre os cantores – uma delas volta a falar sobre garotas de programa.
“Eu relutei em fazer a melodia dessa música, é a terceira vez que gravo sobre o tema, mas acabei fazendo pela amizade com o Zeca Baleiro, que já tinha escrito a canção.” A inspiração de Baleiro veio durante uma gravação no programa Altas Horas, na Rede Globo. Zeca e Odair foram os convidados, junto com Bruna Surfistinha.
“Assistindo ao Odair cantar 'Vou tirar você deste lugar', com a Bruna lá no programa, achei tudo muito interessante, irônico e acabei escrevendo, mas não fizemos a música para ela”, explica Zeca Baleiro, que define a produção como um disco “super rock and roll.”
“Praça Tiradentes”, nome do novo álbum, lançado no ínicio deste mês, é uma homenagem ao Rio, cidade onde Odair foi morar e tentar a vida como músico aos 17 anos. “É uma pequena biografia, conta minha história.” Com o produto ainda quente no mercado, espera conseguir licença para tocar as novidades nos shows, já que o público sempre clama pelos grandes sucessos.
Ele garante que grava, hoje, por prazer e apenas quando sente que tem algo a dizer. “Estou entre os 20 homens que mais fizeram dinheiro neste país. Gosto de fazer shows e ganho com isso, mas o que construí (direitos autorais) deixaria até meus netos com estabilidade. Só produzo quando tenho vontade. Há momentos em que quero ficar calado.”
Principais discos: 1970 - Odair José, 1971 - Meu grande amor, 1972 - Assim sou eu..., 1973 - Odair José, 1974 - Lembranças, 1974 - Amantes, 1975 - Odair, 1976 - Histórias e Pensamentos, 1977 - O filho de José e Maria, 1978 - Coisas Simples, 1979 - Odair José, 1980 - Odair José, 1981 - Viva e deixe viver, 1982 - Só por amor, 1983 - Fome de amor, 1985 - Eu, você e o sofá, 1996 - As minhas canções, 1998 - Lagrimas, 2000 - Grandes Sucessos, 2001 - Ao Vivo, 2003 - Uma História, 2004 - Passado Presente, 2004 e 2006 - Só Pode Ser Amor.

'Não canto mais nem no chuveiro', afirma Lindomar Castilho

Cantor diz que perdeu o prazer pela música e hoje prefere o silêncio.
Aos 72 anos, ele gosta de ler a Bíblia e cultiva uma vida pacata em Goiás.

Lívia Machado Do G1, em São Paulo
Com a voz falha e imbuída de receios, Lindomar Castilho reluta em conceder uma entrevista por telefone. “Eu não sou mais nada, cansei de ser cantor. Para que falar sobre minha vida agora?” Aos poucos, porém, ele concorda em contar um pouco sobre a sua influência na música popular brasileira. Após inúmeros problemas de saúde - um deles responsável por comprometer parte de suas cordas vocais - ele afirma levar uma vida pacata, "quietinha", no interior de Goiás.
(Ao longo desta semana, o G1 publica uma série de entrevistas com sete ícones da música brega. Famosos há cinco décadas, eles permanecem lançando CDs e hoje são reverenciados pela nova geração de cantoras da MPB)
Hoje, o comportamento de Lindomar pouco se assemelha ao artista sedutor e mulherengo que proferia os lamentos em "Vou rifar meu coração" e cantava músicas divertidas como em "Doida demais", hit reciclado na abertura do programa semanal "Os normais", exibido pela Globo de 2001 a 2003.
Diferente de seus companheiros de vertente, aposentou o microfone, perdeu o prazer de cantar e agora tem a Bíblia como companhia. Afirma que ganha "algum dinheiro" com direitos autorais e venda de discos, mas perdeu o interesse e o espaço no meio musical.
“Tenho aqui em casa muitos DVDs, CDs, mas escuto pouco. Perdi o tesão, não canto mais nem no chuveiro.” Lindomar mora sozinho, mas se diz acompanhado por dois porta-retratos de suas filhas, que vivem em São Paulo.
Aos 72 anos, o cantor fez do anonimato uma espécie de escudo. Embora avesso às entrevistas, ele gosta de comentar sobre seus feitos na musica popular. Teme, entretanto, que o assunto inevitavelmente esbarre no crime que cometeu em 1981, quando assassinou sua ex-mulher, a também cantora Eliane de Grammont, em um bar na zona sul de São Paulo. “É um massacre isso. É lógico que eu me arrependo todos os dias. A gente comete coisas em momentos que está fora de si.”
Na época, cumpriu dois anos de pena na capital paulista e depois foi transferido para um presídio em Goiás. Além de compor um CD de inéditas atrás das grades – "Muralhas da solidão", lançado em 1985 e um dos poucos em que assina a maioria das canções –, ele passou os sete anos preso dando aulas de música e violão aos detentos.
“Eu ainda fazia muito sucesso naquela época, e o interesse nas aulas era grande. Comecei com a escolinha em São Paulo, mas o diretor do presídio de Goiânia gostou da ideia. Tinha três turmas e dava aulas de segunda à sexta-feira. Era um alívio, foi muito positivo.”
Nascidos em bordéis
Um dos precursores da música brega, Lindomar credita o adjetivo pejorativo ao nome de uma rua na cidade de Salvador, famosa por abrigar casas de prostituição. “Esse nome começou comigo. Eu frequentava a Rua Nóbrega, que nem sei mais se existe, lá em Salvador. Eu e os demais cantores de músicas românticas tocamos em algumas dessas casas, mas gostávamos de ir lá para ver as garotas de programa. Ficamos conhecidos como os rapazes da Nóbrega, que viviam na Nóbrega, que foi abreviado para brega tempos depois.”
O cantor parece pouco preocupado com o rebaixamento qualitativo que seu estilo musical sofreu ao longo dos anos. “Nada mais é do que música romântica, e não vejo problema em ter vivido disso.” Justifica suas escolhas profissionais com o nome de uma das canções que gravou nos anos 80. "Eu canto o que o povo quer ouvir."
Cheio de si, ele compara o alcance de suas músicas com a baixa penetração da bossa nova, vertente de “bacanas cariocas", como gosta de classificar. “Enquanto eu cantava para milhares de pessoas, eles faziam reuniões para 100. Fui um dos maiores vendedores de disco do Brasil, fui um homem bem sucedido.”
Além do potencial comercial, um ponto comum dos ícones da música brega - ou apenas romântica - como eles preferem ser classificados, foi o frisson que provocaram no público feminino. Ao narrar histórias sofridas de amor, eles arrebatavam corações e eram constantemente agarrados pelas fãs.
“A gente cantava pra uma multidão, era muita mulher, uma loucura. Tinha que chegar junto mesmo, elas queriam, se jogavam. A gente só retribuía.” Hoje, porém, escreve canções apenas para si e resguarda o direito do anonimato. Acredita que seu tempo como artista passou: "Eu já cansei, comecei em 1962. Já chega”.

 

'Cantores de brega como eu estão em extinção', diz Agnaldo Timóteo

Ele se considera o ‘Pavarotti brasileiro’ e lamenta o rumo da vertente.
Intérprete regrava música de Gilberto Gil e lança CD 'romântico-gospel'.

Lívia Machado Do G1, em São Paulo
No toca-discos de Agnaldo Timóteo há pouca variedade. Ele revela que raramente escuta música. Quando o faz, opta pelos sucessos de Ângela Maria, Roberto Carlos e Cauby Peixoto. Mas se apetece mesmo é com o som da própria voz. “O artista que eu mais gosto de ouvir sou eu mesmo. Meu talento é fora do comum, sou o Pavarotti brasileiro”, declara ele, que promete lançar um disco romântico-gospel, cheio de regravações, ainda no primeiro semestre deste ano.
(Ao longo desta semana, o G1 publica uma série de entrevistas com sete ícones da música brega. Famosos há cinco décadas, eles permanecem lançando CDs e hoje são reverenciados pela nova geração de cantoras da MPB)
Apesar da overdose de autoestima, ele garante que não é presunçoso. Crê que sua trajetória é praticamente um milagre, pois soube se manter no topo e com qualidade vocal. “Estou há 47 anos fazendo sucesso, é milagroso tal feito. As pessoas quando me ouvem se assustam, porque eu sou bom demais. Estou cansado de ver os fãs chorarem nos meus shows", gaba-se.
Agnaldo não rejeita o rótulo de brega, mas acredita que faz apenas música romântica de boa qualidade. Como um típico político – ele é vereador em São Paulo – afirma que foi estigmatizado por inveja da oposição. “Macaco quando não pode comer uma banana diz que ela está podre. Foi isso que sempre aconteceu comigo na música", compara.
Lamentos
Seu cargo na Câmara rende um salário de R$ 9 mil por mês, valor que ele julga uma mixaria para tamanha responsabilidade e afazeres. Embora faça apenas quatro shows por mês, garante que é graças ao seu talento na música que consegue sustentar toda a família.
“Acho muito pouco o que recebo no cargo político. Pelo que faço, deveria ganhar como um jogador de futebol. Tenho que agradecer a Deus por fazer quatro shows por mês."
Pela baixa intensidade de apresentações, ele acredita que o brega esteja em extinção. Acha também que é um dos raros ícones da vertente que não teve a voz prejudicada pelo tempo. “Os demais baixaram a voz. Eu continuo no mesmo tom. Mantive a qualidade da minha voz.”
Só se vê modéstia em Agnaldo quando o assunto é mulher. O intérprete revela que fez pouco sucesso como homem. Sempre perdeu para os demais cantores de música romântica. Segundo ele, o maior terrorista do público feminino foi Nelson Ned. “Ele foi demais com a mulherada, era um tarado. O tamanho nunca comprometeu o assédio das fãs.”
Justifica seu ibope baixo no medo. Revela que sempre temeu se apaixonar por mulheres oportunistas, com receio de perder seu patrimônio. “A vida toda tive medo de viver um romance que me custasse o que construí.”
O cantor assume que foge de relacionamentos e confessa que gosta de viver aventuras amorosas. “Sempre fui um homem de aventuras, nunca de compromissos. Não me permito nunca estar sozinho. Hoje, meu desejo de sexo não é o mesmo de 20 anos atrás. Sou uma pessoa mais equilibrada, mas detesto a solidão."
Deus e amor
Católico fervoroso, como gosta de se definir, ele está prestes a lançar um CD de músicas romântico-gospel. O novo álbum já está finalizado e tem regravações de canções de Roberto Carlos e Gilberto Gil, além de “Noite feliz”, primeira música que Agnaldo cantou quando ainda menino em um coral de igreja em uma cidade próxima a Caratinga (MG), onde nasceu. (No vídeo, Agnaldo Timóteo canta no programa Fantástico, em julho de 1981)
Segundo o cantor, a gravação do disco foi um "mar de lágrimas". Ele diz que chorou copiosamente ao cantar “Oração de um jovem triste” e “Se eu quiser falar com Deus.”
“É um CD emocionante, pra quem crê em Deus. Estou vivendo o melhor momento da minha carreira e da minha vida. Hoje eu sou ou admirado ou odiado, mas ninguém me ignora. Sou uma celebridade como o Roberto Carlos. Isso me torna uma pessoa agradecida. ”

'Para fazer sucesso é preciso bregar', diz Reginaldo Rossi

Cantor se define como 'Mozart do Nordeste' e considera todo hit cafona.
'A melhor coisa que me aconteceu foi ser tachado de rei do brega', afirma.

Lívia Machado Do G1, em São Paulo
Ficha Reginaldo Rossi (Foto: Arte/G1)
Reginaldo Rossi não gosta de caviar. Diz que é refinado o suficiente para comer a iguaria todos os dias — sem pesar no bolso —, mas prefere um bom prato de arroz com feijão e calabresa. A mesma lógica aplica para sua música. Culto e inteligentíssimo, como se autodefine sem falsa modéstia, diz que teria todas as ferramentas intelectuais para compor à maneira de Chico Buarque.
(Ao longo desta semana, o G1 publica uma série de entrevistas com sete ícones da música brega. Famosos hzá cinco décadas, eles permanecem lançando CDs e hoje são reverenciados pela nova geração de cantoras da MPB)
“Eu entendo inglês, francês e espanhol. Fiz faculdade de engenharia. Estudei e poderia ter escrito: ‘Garçom, eu sei que estou sendo inconveniente, que todo alcoólatra no estado etílico é desagradável’ (..) Mas prefiro dialogar com o povão e cantar as dores do mundo de uma forma que tanto o pedreiro quanto o médico me entendam", afirma, com um exemplo de como seria um trecho do hit "Garçom" na forma culta.
Rossi carrega a coroa de "rei do brega" como um boné. Confortável no rótulo que recebeu ao longo dos anos, acredita que o apelido o fez um homem de sorte. No Nordeste, onde mora e faz muitos shows, é aclamado como um monarca. “Foi a melhor coisa que me aconteceu. Sou extremamente feliz assim.”
Na visão do cantor, todo artista é brega por natureza, e os hits são feitos da cafonice universal. “Se não bregar, não vinga. Pra fazer sucesso em qualquer lugar do mundo é preciso bregar.”
Além de transformar o adjetivo em verbo, ele acredita que Roberto Carlos é o maior e melhor cantor de música brega do Brasil. Para Rossi, o amigo se tornou um produto tão forte que conseguiu se descolar do estigma, fenômeno que não foi vivenciado por ele e pelos demais colegas da dor de cotovelo.
Reginaldo Rossi rechaça apenas o rótulo de “produto de segunda classe”, definição dada pelo dicionário ao termo brega. “Não existem categorias para as músicas. O que é música brega e música sofisticada? Eu quebrei o estigma dos 'cornos' e uso a linguagem popular para cantar. É demérito gostar do que o povo gosta?”, questiona.
Escola de sedutores
Ao cantar sobre amor, sexo e traição, Reginaldo virou uma espécie de terapeuta universal. Nas ruas por onde passa, os fãs o agradecem por rimar aquilo que também sentem. Embora tenha batizado musicalmente o termo "corno" — problema recorrente do eu lírico de suas canções — ele garante que nunca sofreu desse mal. (No vídeo, Reginaldo canta "Garçom", um de seus principais sucessos, no programa Domingão do Faustão, em julho de 2007)
“Todo mundo pensa que eu canto sobre esse assunto porque ja fui corno. Posso assegurar que nunca ninguém me colocou um par de chifres. Pra cantar é preciso ter sensibilidade, e não a cabeça pesada”, diverte-se Rossi. Casado há quase 40 anos, ele revela, sem receios, que é fiel há apenas uma década, mas jura amor eterno à esposa. "Ela é a mulher maravilha, brilhante."
A fama de mulherengo rendeu boas histórias e inúmeras aventuras. Uma das mais marcantes, segundo ele, ocorreu no Amazonas: “Durante todo o show eu fiquei de olho na moça mais bonita da festa, em um clube da cidade. Quando terminei a apresentação consegui encontrá-la. Passei a noite com ela em uma casinha de palafita. Quando acordei, oito crianças no pé da cama olhavam pra mim e gritavam: “o papai voltou”. Saí correndo desesperado com a calça na mão”.
Autoestima
Hoje, porém, não se sente mais capaz de arrebatar a moça mais bonita da plateia. “Agora eu já estou bem coroa, mas fui muito mulherengo, o bonitão das garotas. Eu saía com três ou quatro na mesma noite. Eu sou charmoso, fino, educado, culto e muito inteligente.”
No brega, não há limites para a autoestima. Quando é preciso definir a qualidade da própria voz, ele, assim como a maioria dos cantores ícones da vertente, se mostra um narcisista convicto. “Tenho uma voz forte, meio rouca. Voz de macho, voz de homem. Gosto muito.”
Reginaldo revela que vive muito bem com os shows que faz pelo país e pretende gravar um CD com releituras e músicas inéditas em 2013, projeto ainda sem corpo, só esboço. “Penso em lançar um disco de inéditas no ano que vem. Metade inédita, metade antigas. Não tenho laboratório, não tenho nada. Sou um artista desleixado. Mas sou o Mozart do Nordeste.”
Principais discos: O pão - 1966, Festa dos pães - 1967, O Quente - 1968, À procura de você - 1970, Reginaldo Rossi - 1971, Nos teus braços - 1972, Reginaldo Rossi - 1973, Chega de promessas - 1977, A volta - 1980, Cheio de amor - 1981, A raposa e as uvas - 1982, Sonha comigo -1983, Não Consigo Te Esquecer - 1984, Só Sei Que Te Quero Bem - 1985, Com Todo Coração - 1986, Teu Melhor Amigo - 1987, Momentos de amor - 1989, O rei - 1990, Reginaldo Rossi - 1992, Reginaldo Rossi ao vivo - 1998, Reginaldo Rossi the king - 1999, Popularidade-Reginaldo Rossi - 1999, Para Sempre -Reginaldo Rossi - 2001, Cabaret do Rossi - 2010.

'Não entendo por que acham minha música brega', diz Beto Barbosa

Cantor rechaça rótulos e se considera tão cult quanto a bossa nova.
'A lambada de ontem é o forró e o sertanejo de hoje. Fui pioneiro', afirma.

Lívia Machado Do G1, em São Paulo
Beto Barbosa começou sua carreira musical aos 30 anos. Deixou o ramo comercial e o sonho de ser empresário para cantar e dançar lambada. É autor de “Adocica” e “Preta”, hits tocados à exaustão nos anos 80, que ainda renascem nos carnavais da Bahia. Aos 57 anos, ele lança singles novos no site YouTube para manter-se ativo, e diz que se sente um homem visionário. Conta ter sido pioneiro ao unir música e dança em shows, casamento que hoje rende aos sertanejos lugares entre os 10 primeiros da Billboard.
(Ao longo desta semana, o G1 publica uma série de entrevistas com sete ícones da música brega. Famosos há cinco décadas, eles permanecem lançando CDs e hoje são reverenciados pela nova geração de cantoras da MPB)
“O forró com dançarinas no palco, o tecnobrega e o sertanejo de agora foram influenciados pela lambada que eu fazia antigamente. Eu comecei esse movimento, fui pioneiro.” Em 1985, quando inaugurou a requebrada nos palcos, Beto Barbosa era acompanhado por dançarinos. Um deles era o coreógrafo Carlinhos de Jesus.
Os passos de “Adocica”, aliás, foram criados pelo bailarino naquela época, mas também podem ser vistos nos shows da banda Calypso. Segundo Beto, o "bate cabelo" da cantora Joelma reproduz o que ele fazia no século passado. "Quem fazia esses movimentos era a Robertinha, minha bailarina e parceira do Carlinhos."
Igualdade
É por sua contribuição no ramo musical que ele eleva o tom da voz quando questionado se o rótulo de brega o incomoda. “Eu não entendo, nem nunca entendi, por que chamam minha música de brega. Que diferença ela tem das demais? Eu sou tão cult quanto a bossa nova.” (No vídeo, Beto se apresenta na edição de novembro de 1989 do programa musical Globo de Ouro)
Para Beto, o verniz de subcultura que sua música dançante tem é um preconceito contra os nordestinos. “Desclassificar uma pessoa por raça, cor e opção sexual é crime. O mesmo deveria acontecer com esse preconceito que existe contra a música popular, oriunda da baixa renda e do Nordeste”, acredita.
A mesma agressividade não é vista no comercial de uma marca de cerveja da qual o cantor foi personagem. Na propaganda, Beto Barbosa é um dos "itens" considerados “queima-filme” em um churrasco entre amigos. Ele revela que aceitaria participar do comercial usando os demais acessórios citados como cafonas: terno verde de ombreiras, sunga de crochê, pochete e óculos escuros estilo new wave . Não se sentiu ofendido com o mote da campanha – adorou a ideia – e considera apenas uma brincadeira, sem nenhum juízo de valor.
Os balaios criados para definir gêneros musicais, entretanto, nunca o impediram de fazer sucesso. Ele acredita que conseguiu construir uma carreira sólida e se sente lisonjeado por ter suas canções regravadas, como é o caso de “Preta”, hit dos anos 80, que ganhou versão micareta ao ser interpretada por Ivete Sangalo.
Beto Barbosa agora só quer saber de compor singles e publicá-los na web (Foto: Divulgação)Beto Barbosa agora só quer saber de compor
singles e publicá-los na web (Foto: Divulgação)
Reino da lambada
Em seus shows, tais canções são obrigatórias. Embora ele se esforce para continuar quentinho no mercado, os antigos clássicos seguem aclamados pelo público. “Não posso deixar de cantar 'Adocica' e 'Preta' da mesma forma que o Roberto Carlos não pode deixar de cantar 'Emoções', e 'Desafinado' não pode faltar no show do João Gilberto.” Em cada apresentação, porém, ele garante que a música se renova. “Nunca canto da mesma maneira.”
Ainda assim, defende que o artista tem obrigação de produzir coisas novas. Para isso, divulga singles no YouTube e produz CDs em pequena escala para distribuí-los nos shows. “Não temos mais uma gravadora, lançamento, divulgação. Hoje vale produzir músicas, e não álbuns completos. É muito difícil emplacar uma nova canção. O que o Michel Teló conseguiu é raro atualmente.“
O último disco que lançou foi em 2011, com músicas inéditas e regravações próprias. Neste ano, espera cativar com a faixa “Acelera”, gravada em parceria com a banda de forró Aviões do Moído. Seus 25 álbuns o fizeram "um homem muito rico para os padrões brasileiros", segundo sua definição. Além de viver de shows — ele faz, em média, dois por semana —, Beto investe dinheiro em imóveis e lojas de departamento.
Solteiro, assume que o assédio já http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=8475029475792462090#editor/target=post;postID=7448062086920005446foi muito grande e perdura de forma menos intensa. Assim como acontecia com  Wando e segue acontecendo com Sidney Magal, ele também ganha inúmeras lingeries de suas fãs. Além das roupas íntimas, muitas bijuterias e flores são atiradas durante as apresentações. Todos os “bens” doados, entretanto, são deixados para trás ao final do show. O único presente que ele guarda com carinho é um terço de dedo, arremessado por uma fã durante um show em Fortaleza. “Sou católico praticante, guardei esse terço com carinho. O resto não tem condições.”
Principais discos: Girando no Salão 2010, Só as melhores 2008, Nova Série 2007, 30 anos Warner - Beto Barbosa 2006, Overdose de Amor 2005 , B alada: Uma explosão de alegria 2003, Grandes Sucessos e Inéditas 2002, Claridade 2001, Forroneirando 2000 , Dance e Balance com o Beto Barbosa 2000, Dance e Balance Ao Vivo 1999 , Popularidade 1999, Girando no Salão 1998, Beijo Selvagem 1997, Dança do Mel 1996, Navegar 1995 , Dose Dupla 1995 , Ritmos 1994, Beto Barbosa 1993, Cigana do Amor 1992 , Dona 1991, Preta 1990, Adocica 1988 , Símbolo Perfeito1987 e Atos e Fatos1985.

'Em casa eu só escuto bossa nova e R&B', diz Sidney Magal

Cantor defende sua formação sofisticada e ignora rótulos pejorativos.
'Adoro a minha voz e acho o Michel Teló mais brega do que eu', compara.

Lívia Machado Do G1, em São Paulo
Rei das formaturas, Sidney Magal divide seu tempo entre Sandra Rosa Madalena e Diana Ross - cantora americana da qual se diz fã incondicional. Nos palcos, é o cantor cheio de malemolência e olhares sedutores que arrebata vestimentas íntimas das fãs nada recatadas. Dentro de casa, porém, ele revela ouvir apenas bossa nova e a black music americana.

“Incorporei um personagem para minha carreira. Alguns se venderam, eu não. Mantive meu sucesso e a qualidade da minha voz. Sandra Rosa não foi nem mixada, de tão boa. Mas em casa eu só escuto bossa nova, jazz e R&B.”
(Ao longo desta semana, o G1 publica uma série de entrevistas com sete ícones da música brega. Famosos há cinco décadas, eles permanecem lançando CDs e hoje são reverenciados pela nova geração de cantoras da MPB)
Embora não se ofenda com o rótulo de cantor de música brega, Magal mostra certa mágoa com o estigma. “O que faço é música romântica latina. Não me incomoda, pois sempre soube do meu valor. Estudo música desde os sete anos, não nasci na internet”, alfineta.

Em junho deste ano, o cantor dará ao mercado sua versão mais romântica e menos requebrada. Ele lança em DVD e CD um disco com regravações de músicas latinas e sua releitura de “Preciso dizer que te amo”, clássico de Cazuza. “É o começo da celebração dos meus quase 60 anos.”
Na visão do intérprete, o Brasil finalmente se assumiu genuinamente brega graças ao sertanejo contemporâneo e às bandas de pagode. “A verdade do país é ser brega. O sertanejo universitário e o pagode ajudaram a quebrar esse preconceito. Quer algo mais brega do que o Michel Teló? Acho que ele é mais brega do que eu.”
Magal acredita que hoje todas as classes sociais cantam o hit “Ai se te pego” sem vergonha. Mas diz que, em outras épocas, ao mesmo tempo em que ele e os demais músicos faziam sucesso no meio popular, eram execrados pela elite intelectual. No final dos anos 70, Odair José falava sobre garotas de programa e ele levava a sexualidade para cima dos palcos. “Não aceito mais cobranças, já que continuamos aplaudindo o mesmo tipo de coisa. O brega nunca foi embora. Hoje todo mundo assume que gosta e acha o máximo.”
 'Não desperto mais tanto tesão'
Satisfeito com a carreira que construiu ao longo de seus quase 59 anos, ele se considera um dos maiores cantores do país – perde, em sua avaliação, apenas para Emilio Santiago, a quem considera o líder do ranking da categoria. (No vídeo, o cantor mostra seu estilo cigano no clipe "Sandra Rosa Madalena", exibido pelo Fantástico em junho de 1978)
“Não toco nenhum instrumento, não tinha paciência, queria subir logo no palco e mostrar minha qualidade vocal. E acho que sou um dos maiores do Brasil. O melhor, pra mim, é o Emílio.” Internacionalmente, além de ser tiete de Diana Ross, ele admira Stevie Wonder. “Queria ser como ele, mas para isso teria que ter estudado nos EUA.”
O casamento de 33 anos não censurou seu exibicionismo nos palcos. Magal afirma que gosta de ser elogiado, chamado de “lindo”, “maravilhoso” pelas fãs, mas acha que não desperta mais grandes loucuras no público feminino. “Hoje em dia, se eu tirar a roupa, morro de rir. Perdi a beleza física, e meu público amadureceu comigo, não desperto mais tanto tesão.”
Principais discos:
1977 - Sidney Magal, 1978 - Sidney Magal, 1979 - O Amante, 1980 - O Amor Não Tem Hora para Chegar, 1981 - Quero Te Fazer Feliz, 1982 - Magal Espetacular, 1983 - Vibrações, 1984 - Cara, 1985 - Me Acende,1987 - Mãos Dadas, 1990 - Magal, 1991 - Só Satisfação, 1995 - Sidney Magal & Big Band, 1998 - Aventureiro, 2000 - Baila Magal, 2006 - Sidney Magal Ao Vivo.


'Tenho certeza de que fui um dos melhores do mundo', diz Nelson Ned

Ele revela que foi muito difícil ser anão e cantor de brega no Brasil.
‘Lá fora eu não tinha estatura, cor, raça ou classificação musical', recorda.

Lívia Machado Do G1, em São Paulo
nelson ned (Foto: Arte G1)
Para Nelson Ned, ser anão é apenas uma caracteristica física, como a cor da pele ou dos olhos. “Minha mãe fazia questão de mostrar que eu não tinha diferença nenhuma. Minha avó até quis que eu estudasse em casa para não ser motivo de chacota, mas eu cresci como uma criança normal. Não pedi para ser desse jeito. Mas sou anão assim como o Pelé é negro. É somente um detalhe."
(Ao longo desta semana, o G1 publica uma série de entrevistas com sete ícones da música brega. Famosos há cinco décadas, eles permanecem lançando CDs e hoje são reverenciados pela nova geração de cantoras da MPB)
Primogênito dos 7 filhos de Nelson de Moura Pinto e Ned d´Ávila Pinto, ele saiu de Ubá (MG) para tentar a vida no Rio de Janeiro aos 17 anos. Começou bem distante dos palcos, trabalhando em uma linha de montagem de uma fábrica de chocolates. Cantou em boates paulistas e cariocas antes da maioridade e era escondido embaixo do balcão das casas quando o Juizado de Menores passava para fiscalizar.
Tempos depois, passou a ser figura recorrente no programa do Chacrinha, que ele considera o “pai de sua carreira artística”. Foi na televisão que conquistou espaço e sucesso com o hit "Tudo passará", uma de suas primeiras músicas.“Ele foi um divisor de águas na minha vida. Me deu oportunidade e comida. Devo muito ao falecido amigo. Foi muito difícil ser cantor de brega e anão neste país.”
Retrospectiva
 
O cantor tem intacta a memória dos tempos de fama. Mantém o humor e o senso crítico apurado, mas esquece rapidamente o que acabou de fazer. É incapaz de lembrar que tomou um café durante a entrevista. A sequela foi deixada pelo acidente vascular cerebral, sofrido em 2003. Hoje, ele está sob a guarda e cuidados de Neuma, uma de suas irmãs, com quem mora em São Paulo. (No vídeo, Nelson Ned canta no programa TV Mulher, em outubro de 1984)
O AVC também comprometeu a parte vocal de Nelson, que agora desafina ao cantar. A falha aos 65 anos, entretanto, não compromete a interpretação: ele estufa o peito e ergue os braços em pose de apresentação no Canecão, extinta casa de show no Rio de Janeiro e uma de suas boas lembranças no Brasil. “Tenho certeza de que fui um dos melhores cantores do mundo. Fiz muito sucesso aqui e lá fora em uma época nada globalizada. Fui o primeiro artista brasileiro a cantar no Canecão sozinho”, gaba-se.
A apresentação mais inesecível, porém, foi longe de casa. Nelson chora ao recordar dos shows que fez no Carnegie Hall e no Madison Square Garden, ambos em Nova York. “Eu tremia demais quando pisei nesses palcos. Foi grandioso. Falar disso me emociona demais.”
No exterior, ele sentia que era tratado com respeito e pouco preconceito. Aqui, diz que foi estigmatizado por ser um anão que fazia do amor um sofrimento musical. "Lá fora eu não tinha rosto, era só uma grande voz", afirma.
“Muitos iam aos shows para vê-lo sem nem saber que ele era anão, descobriam lá, ao vivo. Gostavam demais da voz dele. O tamanho era secundário”, complementa a irmã.
Nelson Ned se diz emocionado ao recordar sua carreira na música brasileira  (Foto: Caio Kenji/G1)Nelson Ned se diz emocionado ao recordar sua carreira na música brasileira (Foto: Caio Kenji/G1)
Galã
Embora tenha sofrido o que hoje foi patenteado de “bullying”, as chacotas e rótulos não o impediram de fazer sucesso com o público feminino. Ao saber que o amigo e cantor Agnaldo Timóteo o considera “um anão tarado, terror das mulheres”, Ned gargalha e confirma a definição. “Elas queriam me carregar no colo, era uma coisa maternal. Viam-me como uma teteia, como se eu fosse inofensivo”, diverte-se.
As aventuras foram incontáveis, mas os amores verdadeiros ele resume a três mulheres. A  primeira paixão foi Eliciane, filha de um gerente na fábrica de chocolates. Depois veio Marly, com quem teve três filhos e, por fim, Cida, sua segunda e atual mulher, com quem deixou de viver desde que sofreu o AVC. Os três romances subsidiaram sofrimentos e foram usados como matéria-prima para compor. “Sou um cantor romântico apaixonado. Sempre precisei de solidão, dor e amor para escrever.”
Família de Ned guarda recortes de jornais e discos do cantor em um síto no interior de São Paulo (Foto: Caio Kenji/G1)Família de Ned guarda recortes de jornais e discos
do cantor em um síto no interior de São Paulo
(Foto: Caio Kenji/G1)
Multicultural
Com 32 discos gravados em português e espanhol, ele se considera um poliglota. Diz que, assim como os jogadores de futebol, aprendeu a falar inglês, espanhol e italiano de tanto frequentar os EUA, a Europa e América Latina. “De tanto cantar, eu acabei pegando rapidamente o sotaque. Aprendia as letras em diferentes nacionalidades, e isso facilitava. Em espanhol, até pareço nativo, é perfeito.”
Ned não desgosta de ninguém. Admira o cantor Roberto Carlos, mas acha que ele conseguiu se descolar do estigma de brega, feito não alcançado por ele e os demais cantores de boleros românticos. “Ele é tão bom quanto eu, gosto muito dele. Talvez tenha dado mais sorte, foi mais fácil pra ele do que para mim.”
Das canções mais lindas que já escutou na vida, tem como preferida uma de suas primeiras composições: “Tudo passará”.“É a que mais gosto. Quando cantei em um programa fui aplaudido de pé no meio da música. Isso é ser brega? Quem não é brega quando fala de amor? É o amor que é brega, não a minha música.”
Principais discos: 1999 - Tudo passará/Meu jeito de amar, 1999 - Os melhores tangos e boleros, 1998 - Seleção de ouro/20 sucessos, 1997 - Jesus está voltando, 1993 - El romantico de América, 1992 - Penso em você , 1979 - Meu jeito de amar, 1970 - Nelson Ned, 1969 - Tudo passará, 1960 - Eu sonhei que tu estavas tão linda/Prelúdio à volta.


Fonte: G1

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