A divisão do Pará não foi desfeita
Lúcio Flávio Pinto
Articulista de O Estado do Tapajós
O
efeito do plebiscito de 11 de dezembro, quando mais de dois terços do
eleitorado paraense se recusaram a aceitar a divisão do Estado para a
criação de mais duas unidades federativas, de Carajás e do Tapajós,
deverá se refletir nas eleições municipais deste ano. Mesmo se tratando
de disputas em âmbito territorial restrito, que permite aos candidatos
atuar apenas em uma base de votos, o suficiente para sua eleição, um dos
seus efeitos poderá ser o de especializar a representação política.
O
Pará saiu polarizado da votação do ano passado. As posições postas em
questão pela consulta plebiscitária segmentaram espacialmente o
eleitorado em territórios conflagrados. Essa tensão e esse ânimo
conflitantes ficaram obscurecidos pelo resultado da votação, na qual a
esmagadora maioria da população se opôs aos projetos de emancipação. Não
faltavam sólidos argumentos contrários a essa aspiração, e, em
especial, à forma com que ela se expressou. Mas, ao se manifestar de
maneira tão vigorosa contra os separatistas, a região metropolitana de
Belém se isolou.
Será
uma vitória de Pirro se os vitoriosos não perceberem a situação em que
ficaram e não tratarem de compensar os derrotados. Nem é o caso de
compensação, já que a expressão se desgastou nas tentativas de camuflar
as perdas causadas por iniciativas de impacto. Ao invés de compensar, o
reequilíbrio político e territorial do Estado exige uma nova divisão de
poder e a descentralização administrativa. Sem isso não haverá o
necessário desarmamento dos espíritos, mobilizados por uma campanha
aventureira e oportunista dos líderes dos projetos dos dois Estados.
Eles
sabiam que as evidências demográficas impossibilitavam a vitória. A
derrota se tornou ainda maior por causa de uma campanha de marketing
desastrada. Ao invés de tentar convencer a maioria dos paraenses sobre
as vantagens da divisão, atacou-os com a pretensão de intimidá-los ou
diminuí-los, fazendo-os assim incorporar o papel de algozes, de
responsáveis pelos problemas das regiões agora empenhadas em se libertar
desse jugo. Ao invés disso, a campanha por Carajás e Tapajós suscitou o
orgulho nativo e engendrou o receio de comprometer o futuro pela perda
de suas riquezas naturais.
Uno
ou tripartido, o Pará já está com esse futuro ameaçado pelas práticas
em curso de exploração dessas riquezas, que seriam mantidas pelos
defensores da redivisão. Mas eles conseguiram convencer (ou iludir) as
populações do Oeste e Sul de que os novos Estados só não saíram pelo
egoísmo e tirania dos que controlam as engrenagens do poder decisório e
querem manter a situação atual, raiz das injustiças e desigualdades. A
polaridade extremada poderá acabar com o livre ir-e-vir de políticos que
se destacaram na campanha do plebiscito.
Com
uma diferença: desfeita a ameaça da separação da maior parte do
território paraense, os que se posicionaram contra deixarão de formar
uma unidade, como a que persistirá nas áreas de Carajás e Tapajós. E que
persistirão como campo de manobra para os líderes dos dois movimentos.
Se eles sabiam que a vitória era quase impossível no plebiscito, agora
as possibilidades de vitória pessoal se tornaram factíveis. Suas
carreiras poderão prosseguir.
Até
agora a administração Jatene nada fez para reverter essa situação e
restabelecer o entendimento político entre as três partes do Estado. Ao
endossar o nome do deputado Zenaldo Coutinho, líder da frente contra as
emancipações, como candidato do PSDB à prefeitura de Belém, parece
indicar que continuará a agir assim, contra o sentido da história. Mesmo
que não haja candidato capaz de se harmonizar com a difícil e
conflituosa história do Pará.
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