Tapajós quer romper isolamento e tornar-se 'Estado ecológico'
Com boa parte das últimas reservas florestais
intactas do Pará, a região do Tapajós, no oeste paraense, reclama
autonomia administrativa para tirar mais proveito de suas belezas
naturais.
Hoje, o turismo na região se concentra nas praias de areia branca de Alter do Chão, distrito da maior cidade no oeste paraense, Santarém. As praias, rodeadas pela floresta amazônica e às margens do rio Tapajós, foram consideradas as mais bonitas do Brasil pelo jornal britânico The Guardian, em 2009.
No entanto, diz o deputado, como o aeroporto de Santarém só recebe alguns voos nacionais e a região carece de conexões rodoviárias com o resto do país, há grande dificuldade para atrair um maior número de visitantes e explorar turisticamente outras regiões do oeste paraense.
Com a separação, Maia diz que a região poria fim ao seu isolamento e atrairia mais verbas federais, já que hoje, segundo ele, recebe apenas 5% de todo o valor investido no Pará.
Se for criado, o Estado dos Tapajós abrigaria 59% do atual território paraense, mas apenas 15% de sua população.
Comunidade isolada
A esperança de que a emancipação rompa o isolamento do oeste paraense é a principal razão para que a agricultora Regina de Sousa Meireles, 27 anos, apoie o projeto separatista.Meireles mora na Vila dos Goianos, comunidade às margens da estrada Santarém-Jabuti.
Embora a vila esteja a cerca de 80 km de Santarém, diz Meireles, a viagem até a comunidade leva cerca de quatro horas, já que a estrada não é asfaltada e está repleta de buracos.
Se chove, porém, a estrada costuma inundar, tornando o acesso a Santarém ainda mais demorado e perigoso.
"Os passageiros vêm de lá para cá correndo risco de vida", diz a agricultora. Segundo ela, muitos ônibus que ousaram fazer a travessia em dias de chuva caíram de uma ponte.
A dificuldade de acessar Santarém, afirma Meireles, faz com que os professores se recusem a lecionar na comunidade, que por isso carece de escolas. De acordo com ela, tampouco há hospitais na região – o mais próximo fica em Santarém.
"Espero que a divisão traga mais recursos para a região".
Corredor para exportação
Além de facilitar o acesso a comunidades isoladas, o investimento em estradas permitira que a região do Tapajós se tornasse um corredor para exportar a soja produzida no Centro-Oeste, segundo políticos locais.Por outro lado, ambientalistas temem que a melhoria das estradas favoreça o avanço do agronegócio pelo sul da região, ameaçando o meio ambiente.
Eles apontam ainda que, embora hoje o oeste paraense tenha boa parte de suas florestas preservadas, a construção em seu território da hidrelétrica de Belo Monte e de quatro usinas no rio Tapajós (cujo projeto está em fase de estudos) poderia desencadear um processo de ocupação desordenada do território, com graves prejuízos ambientais e conflitos com os indígenas que habitam a região.
Já os defensores da divisão afirmam que a criação do Estado facilitaria a fiscalização do desmatamento e a redução dos danos causados por empreendimentos na região.
Tradições culturais
Outros argumentos usados por partidários da separação são a longevidade do movimento emancipatório (iniciado por volta de 1850) e as tradições culturais únicas da região.Com muitas cidades fundadas no século 17, quando o interior da Amazônia começou a ser ocupado, a região desenvolveu práticas culturais únicas, distintas das de Belém.
Para o artista plástico Laurindo Leal, 72 anos, a separação evitaria que essas tradições se perdessem, processo que, segundo ele, ocorre a passos largos.
"Cadê o nosso Carnaval, que era um dos melhores do Norte do Brasil? Acabou. No entanto, (com a separação) passaremos a valorizar o que é nosso, e nossa opereta voltaria a funcionar no Natal, assim como outras manifestações folclóricas e culturais".
Fonte: João Fellet
Enviado especial da BBC Brasil ao Pará
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