Especial 30 anos do Mundial do Fla: Zico: 'Eu ia sair. Estava acertado com o Milan'

POR HUGO PERRUSO
Rio - Zico não marcou no Mundial de Clubes e nem precisava. Com participação nos três gols na fácil vitória do Flamengo por 3 a 0 sobre o poderoso Liverpool no Estádio Nacional de Tóquio, o Galinho chegava à sua glória máxima ao dar o maior título da história de seu clube do coração como o astro principal e capitão de uma geração vitoriosa. O que muitos torcedores não sabem é que o maior ídolo rubro-negro por muito pouco não saiu antes de liderar a equipe.

O Milan, que voltava à Primeira Divisão na temporada 81/82, já tinha se acertado com Zico. Só que na hora de fazer a proposta oficial ao Flamengo, os dirigentes italianos que vieram ao Brasil ofereceram um valor baixo e a transferência não aconteceu. Sorte do Flamengo e da torcida.

“Já estava tudo acertado, até casa eu já tinha visto. O cara fez uma proposta para mim e para o Flamengo pelo jornal. Quando foi à Gávea, ofereceu um valor bem menor. Aí melou tudo. Só não saí por causa disso. Foi por pouco. Da minha parte já estava tudo acertado com autorização do Flamengo”, revelou Zico.
Foto: André Mourão / Agência O Dia
Eterno ídolo, Zico relembrou como foi conquistar o mundo pelo Flamengo | Foto: André Mourão / Agência O Dia
Mas o Galinho ficou e liderou um time de craques para levar o Flamengo ao topo do mundo. Passaram-se 30 anos e as memórias estão vivas, assim como a idolatria dos rubro-negros pelo eterno camisa 10.

MARCA BRASILH: O que representou o Mundial?

Zico: O que me gratifica de verdade é o fato de ter sido campeão pelo meu time de coração. É minha maior glória, orgulho e satisfação. Tive momentos de torcedor que era difícil. Queria ter vivenciado esse momento como torcedor (risos).

MBH: O que aquele time tinha de especial?

Z: Futebol. Todo mundo jogava pra cacete. Tem que ser profissional, que querer, ter vontade de treinar, de entrar junto. Ninguém se poupava, e ainda tinha viagem para a Seleção.

MBH: Por que foi fácil a final contra o Liverpool?

Z: Ficou fácil. Talvez eles não se informaram sobre a gente. Nosso time era de muita rotatividade, eles ficaram numa roda. No segundo tempo, o Liverpool ficou na dele. Imagine time campeão da Europa tomar de seis e passar vergonha. Quem vinha para cima da gente tomava. Poderia ter sido mais, mas não íamos nos expor. Não forçamos.

MBH: Afinal, os ingleses se achavam superiores?

Z: É história para valorizar (risos). Todo jogo no Maracanã fazíamos batucada. Os caras nunca tinham visto, espantaram-se e colocamos pilha: “Estão debochando da gente, vamos mostrar a eles”. Aproveitamos.

MBH: Até 81, só o Santos de Pelé havia trazido o Mundial para o Brasil. Tinha essa preocupação?

Z: Pensávamos que era nossa grande oportunidade. Chegamos e não poderíamos jogar por terra. Não nos contentávamos com o segundo lugar, tomamos gosto pela vitória. Naquela época não pensávamos se íamos ficar para a história. Fomos para ganhar.

MBH: Você foi o melhor em campo. O que fez com o carro que ganhou?

Z: Eu já sabia que se jogasse mais ou menos ia ganhar um carro (risos). A Toyota tinha interesse de que um cara de nome usasse um carro dela. Tanto que deu para mim e para o Nunes, o mais decisivo. Dividimos com o grupo. O meu custou 8 mil dólares e o do Nunes, 7 mil. O dinheiro só foi pago um ano depois e deu trabalho. Eu gastei mais de passagem para Brasília para entrar com o carro no País, do que recebi com a divisão.

MBH: O que pensou quando levantou a taça?

Z: Queria estar com a torcida do Flamengo no Maracanã, queria levantar para eles. Foi de uma frieza grande, a comemoração foi só entre a gente.

MBH: E a Libertadores, como foi disputá-la?

Z: Foi a vitória do futebol sobre a violência, você não tem ideia do que passamos. Ônibus apedrejado, vestiário quebrado... Na Bolívia, parecia que estávamos no quartel, cheio de militar armado. Foi complicado. Em Santiago, fomos assaltados e não fomos campeões no dia. Não nos deixavam atacar. Sabíamos que o ‘Ratón’ Barreto (juiz Ramón Barreto) ia fazer isso. Sorte nossa que ele não caiu no sorteio da final.

MBH: Quem foi o grande adversário até o Mundial?


Z: O Atlético-MG. Se passa pela gente seria o campeão. Os jogos eram muito complicados. Tanto que foram dois empates.

MBH: E a confusão no jogo de desempate, foi melhor ou queriam jogar?

Z: Eles vacilaram, pediram para sair. Preferia ganhar no campo. O jogo começou violento e o Wright (José Roberto, árbitro) chamou os capitães, eu e o Cerezo, e disse que o primeiro que desse uma pancada ia sair. Logo depois peguei a bola e o Reinaldo me deu tesoura por trás. Depois o Eder e o Palinha foram expulsos. Acabou o jogo.

MBH: Depois disso, como foi o convívio com os jogadores do Galo na Seleção?

Z: Nenhum problema, sacaneávamos muito eles. Quem perde é que chora, irmão.

MBH:Foi o melhor time da história do Flamengo?

Z: Sem dúvida. Acho difícil outra equipe se igualar, era uma seleção. Não sei se ganharia a Copa de 82, mas tinha chance. Foi a consagração da geração, eram oito revelados no clube.

MBH: Por que depois o Flamengo não conseguiu repetir o feito de 81?

Z: É difícil dizer... No ano seguinte não chegamos porque o goleiro do Peñarol fechou o gol e eles deram um chute e fizeram. O que faltou depois foi a questão do mata-mata. Tem que fazer vantagem em casa e na maioria das vezes não fez.

MBH: Vocês abriram a porta do Flamengo para o mundo, mas não houve mais um título como aquele. A torcida está “refém” da geração?

Z: A porta continua aberta, no Brasil o Flamengo tomou conta. Não acho que esteja refém. O cara que vem tem que saber que a exigência é maior pelo que o clube conquistou. O Flamengo fez bons times, que tiveram na bica de ganhar Brasileiro, Libertadores, mas na hora do vamos ver não se juntaram para pegar objetivo maior. Houve gerações fantásticas que poderiam ter sucesso, mas o clube não soube se organizar para segurar. Djalminha, Paulo Nunes, Marcelinho, Marquinho, Fabinho, Luiz Antônio, Junior Baiano. Também Zinho, Aldair, Jorginho, Bebeto, Ailton, Zé Carlos, Alcindo. Foram grupos que poderiam ter dado sequência. Agora tem outra geração fantástica com Adryan, Thomás, Lorran, Muralha, Frauches, Luiz Antônio. Tem que preparar os caras para entenderem o que é Flamengo. É importante valorizá-los para o futuro. É uma geração que pode trazer conquistas, coloca dois ou três mais experiente e eles vão dar conta do recado.

MBH: O que essa geração pode aprender com a de 81?

Z: Tem que pensar no futebol em primeiro lugar. Ir treinar, melhorar e se aprimorar. Não tem hora para acabar, isso que leva o jogador ao ápice. Esse time de 81 era isso. Não foi só pela conquista, mas porque jogava, era profissional, se dedicava ao Flamengo.

Fonte: O Dia On Line

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