Plebiscito: o ‘sim’ ou o ‘não’ sob a ótica do conhecimento e da crítica

Seja qual a for a opção individual ou coletiva diante do plebiscito que se avizinha sobre o Tapajós e o Carajás, a única atitude inaceitável é a tomada de posição irrefletida ou com base em sentimentos como o preconceito e a ignorância sobre o significado da consulta aos eleitores em 11 de dezembro. O preconceito, aliás, é filho do desconhecimento.


Participantes da mesa do debate:
Da esquerda para a direita: economista e professor Aluísio Leal,
Ib Sales, presidente da União dos Estudantes de Santarém,
M. Dutra e o padre e militante Edilberto Sena
Isso ficou claro ontem (10/09) durante encontro promovido pelos representantes dos 8 mil universitários de Santarém, na Casa da Cultura. Diferentemente do que se pensa em certos círculos de Belém, nem todos os presentes se mostraram favoráveis ao ‘sim’ e mesmo os que votarão ‘sim’ apresentaram seus pontos críticos, especialmente no sentido de declararem que ‘não se quer criar um Estado qualquer, mas que, em caso de vitória, que se instaure uma nova ordem’. Utopia? Sim, utopia de jovens, pois um jovem que não sonha com um mundo diferente, envelheceu com pouca idade.


Entre os palestrantes estavam o economista Aluísio Leal, da UFPA, o padre e militante Edilberto Sena e eu. Leal mostrou-se um crítico forte, alertando para os riscos de um Estado recém-criado ser tomado de assalto pelas conhecidas quadrilhas nacionais que assaltam os dinheiros públicos em Estados antigos e novos, mas que, nas unidades mais débeis, podem com mais facilidade associar-se a quadrilhas locais e assim inviabilizarem o sonhado projeto de uma experiência nova.

Os demais palestrantes reconhecem esse risco real, embora demonstrando que a ênfase nos problemas presentes e ameaças futuras pode ser fator de paralisação social, uma forma de estabelecer o conformismo. Dessa forma, as quadrilhas e demais corruptos estariam ganhando a parada.

A ênfase foi, portanto, na reafirmação de que a criação do Estado do Tapajós será uma etapa no contexto de uma luta maior, uma luta amazônica e brasileira contra a desigualdade e contra tudo que impede este grande País de deslanchar como uma democracia efetiva, democracia entendida enquanto participação de todos nas riquezas nacionais.

O principal ponto a unir o pensamento dos três expositores diante dos estudantes é o que está dito no título desta notícia: seja qual for a opção, o inaceitável é a decisão com base na ignorância, no desconhecimento do significado deste momento ímpar. E também: seja qual for o resultado do plebiscito, a presente mobilização não deverá parar mais, a fim de que se estabeleça um permanente debate envolvendo todos os setores representativos da sociedade, especialmente da maioria, que são os trabalhadores.

Um debate/ação na busca de soluções permanentes para velhos problemas, na busca de uma sociedade na qual a qualidade de vida não se resuma à luta contra a poluição física do ar que se respira, mas contra a poluição moral que infesta as casas parlamentares, a vida pública de modo geral e a produção de leis que beneficiam sempre as mesmas camadas daqueles que historicamente se beneficiam da força dos mais pobres para ostentarem riqueza e exercerem o poder.

Assim, a luta pelo ‘sim’ no plebiscito extrapola a expectativa imediata de um resultado positivo para se tornar embrião de uma luta muito maior.

Fonte: Blog do Jornalista Manuel Dutra

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