Barbalhos e Maioranas - estamos todos entorpecidos?

A simples publicação do carderno do jornal O Liberal de domingo passado, intitulado "Dossiê Jáder", com a manchete "As bodas da impunidade", é mais do que suficiente para levar imediatamente alguém para a cadeia no dia seguinte - ou o denunciado ou o denunciante. Por ser tudo aquilo verdadeiro ou por ser tudo mentira.

Difícil imaginar que, em qualquer país civilizado, algo semelhante ocorra sem uma reação imediata da justiça, da polícia e de quem mais tem a seu encargo a condução da sociedade com um mínimo de seriedade, decência e respeito a um povo.

No entanto, a despeito de décadas sob o foco de denúncias as mais graves, denunciante e denunciado estão aí, com aparência de tranquilidade para prosseguir em liberdade.

Nós, como povo, costumamos sair às ruas para protestar contra problemas pontuais: aumento de passagem de ônibus, salário baixo, um atropelamento revoltante, contra o desmatamento, etc. Quando é que vamos sair às ruas para um megaprotesto contra o ponto central de todos os nossos problemas sociais e econômicos, causadores de todos os demais, que são a corrupção como prática corriqueira e quase institucionalizada, que é a falta do mínimo compromisso com a justiça social, para protestarmos contra o roubro diuturno do dinheiro público e do desleixo das "autoridades" para com a vida de quem trabalha para sustentar tanto desmando?

Quando é que veremos uma massa humana nas ruas de Belém, do Pará e do Brasil inteiro exigindo respeito, exigindo que os poderosos sejam alcançados pela justiça de modo tão rápido como são alcançados os pobres? Quando é que, nas ruas, milhões de brasileiros iremos repelir a prática do roubro do dinheiro público que falta para a merenda escolar, para tapar buracos nas ruas, para criar, enfim, uma sociedade moderna e decente?

Um milhão nas ruas, será isso tão difícil?

Esta geração não pode ter ilusão: ou damos início à moralização do País ou, no máximo, nunca deixaremos de ser "emergentes", palavra recente para explicar isso que está aí: ricos cada vez mais ricos, massa miserável enchendo favelas e baixadas, cidades entregues aos caos, "autoridades" debochando de todos nós.

Ou começamos logo, ou não há esperança de moralizar a polícia, criar um novo judiciário, novas leis que não permitam a um assassino confesso, como o rico Pimenta Neves, fazer de conta que vai para a cadeia 11 anos depois de matar uma mulher, depois de 20 recursos e mil chicanas advocatícias, permitidas por uma legislação feita justamente para proteger os poderosos.

A corrupção, em todas as suas formas, é prejudicial não somente pelo dinheiro público que á apropriado pelas quadrilhas. A prática generalizada da corrupção, desde a propiona no meio da rua até o conchavo no gabitete, é ainda mais prejudicial porque ela cria o ambiente geral do desrespeito, do vale-tudo, incita pessoas e grupos à praticado crime. A corrupção mexe com a alma das pessoas e da sociedade, levando muitos a recorrerem a variadas formas de violência, à extorsão.

A corrupção encoraja a tolerância ao crime, destroi o senso da nacionalidade, corrói a alma nacional por dentro, retirando o desejo e a decisão de construirmos um grande país.

Ainda bem que há milhões de brasileiros decentes e trabalhadores. A estes cabe o dever de ir às ruas e só delas retirar-se quando tivermos a certeza de que o Brasil pode ser reconstruído sobre novos fundamentos.

Ou agimos dessa forma ou continuamos entorpecidos, calados e reclamando pelos cantos. Ou, pior, dando razão a um ou outro dos intocáveis do mundo da corrupção.

Post scriptum: O jornal O Liberal está anunciando uma "marcha contra a corrupção". Não é esse tipo de manifestação a que me refiro, por tratar-se de inequívoca disputa entre rivais.
Fonte: Blog do Manuel Dutra

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