Abaixo, a íntegra da carta do advogado André Cavalcante entregue ao presidente do São Raimundo, Rosinaldo do Vale, em que ele justifica por que resolveu deixar a diretoria do clube.

A carta foi entregue às 16h de ontem (4), portanto, antes do Pantera Negra entrar no Colosso do Tapajós e ser derrotado pelo Águia de Marabá por 1 a 0.

André deixa o clube em meio a críticas de parte da imprensa santarena pela desclassificação do SR da Copa do Brasil.


Santarém, 04 de abril de 2010.

Rosinaldo do Vale

O SÃO RAIMUNDO ESPORTE CLUBE é parte da minha vida e já faz parte da minha história.

São mais de cinco anos em que o SREC esta presente em boa parte do meu cotidiano não só através das questões jurídicas, gentilmente confiadas a mim por esta Diretoria, como nas questões administrativas junto à Federação Paraense de Futebol, patrocinadores, parceiros e todos mais com quem o Clube se relaciona.

Ao longo deste período, diversas foram às lutas ombreado com você e outros guerreiros alvinegros que mesmo diante de uma causa considerada por muitos como perdida, não deixaram se abater e do caos emergiram para a Glória de um Título Brasileiro.

É verdade companheiro, eu também por muitos fins de noites ou nos inícios dos dias ainda me pergunto se tudo é real, já que ainda esta forte na minha memória as lembranças daquele abominável jogo em 2004 e toda a confusão que se seguiu e da sua imagem de desolação pela não classificação do Clube para a fase principal do Paraense. Como já lhe falei varias vezes foi a sua dor, as suas lágrimas (e certamente de toda torcida), que me fez assumir a causa alvinegra. Coisa estranha para um já ex-azulino, reconheço.

Hoje os problemas começam a ser superados. O Clube se encontra em uma fase nunca dantes vivida em sua história. Temos um situação privilegiada que, se não garante integralmente o custeio das despesas administrativas com a equipe profissional e demais setores do Clube dá pelo menos a certeza que estamos no caminho certo.

Contudo, não podemos dormir em berço esplêndido, não podemos nos conformar com o pouco que conquistamos. Temos que ser diligentes e continuar a esperar o melhor, mas, nos preparar para o pior e assim buscar cada vez mais. A conceito inafastável é EVOLUÇÃO.

Precisamos evoluir em todos os aspectos. Precisamos evoluir tecnicamente para manter nossa caminhada de conquistas. Precisamos evoluir administrativamente para reativar nosso quadro social, arregimentar novos patrocinadores e parceiros, explorar econômica e adequadamente nosso patrimônio, para valorizá-lo cada vez mais. Precisamos evoluir em termos de estrutura com a recuperação do estádio Everaldo Martins, a construção de um Centro de Treinamento que, desde já sugiro que empreste o nome do inesquecível “Zé Neves”. Precisamos evoluir na formação de novas lideranças que dispensem a mesma atenção, cuidado, denodo e dedicação para nosso amado Clube. Precisamos evoluir em todos os demais aspectos inerentes a vida do Clube que de tão extensos inviabilizam a citação de todos nesta carta.

A luta vai ser árdua e longa, mas, desta vez companheiro você não poderá contar com o amigo, pelo menos não da forma tão direta como atualmente. Estou saindo.

Minha vida nunca foi um mar de tranqüilidade. Não tive berço de ouro, mesmo tendo pais maravilhosos e diligentes. Sempre lutei para conquistar minha subsistência e minha evolução pessoal e profissional. Contudo, nunca me furtei em tentar mudar minha realidade e de todos em minha volta.

Com esta expectativa de vida sempre estive a frente de movimentos sociais e culturais. Presidente da ASAC, Fundador e Presidente de entidades estudantis universitárias, como o Centro Acadêmico de Direito e o Fórum das Entidades Estudantis Universitárias, coordenador dos jogos universitários santarenos, representante dos estudantes em questões sociais, só para citar algumas.

Foi justamente este espírito participativo que me fez indignar com as constantes notícias da época (2004) que alardeavam que o SREC estava em Belém passando fome, que não havia lugar para se hospedar e até que o treinamento era feito em uma praça num campo de terra batida. E assim, juntamente com tudo que foi lembrado acima me trouxeram para o ceio da família alvinegra.

No começo, mesmo com todas as dificuldades, conseguimos aos poucos ir arrumando a casa. Você aqui, com o restante da Diretoria e eu em Belém, como meu irmão Sandeclei Monte. Naquela época as críticas não eram sobre nossas condutas, eram sobre a simples participação no Campeonato. A realidade foi mudando e as críticas também. O que era ruim passou a ser louvável (participação no Paraense) e o que era bom passou a ser ruim (minha participação no Clube na condição de Diretor).

Logicamente que com a vasta história de participação em movimentos populares compreendo que criticas sempre irão existir e esta compreensão me fez suportar esta covarde campanha deflagrada contra minha pessoa e do Sandeclei após o fatídico episódio da Copa do Brasil.

Minha consciência sempre esteve tranqüila por saber que em nada contribui para este episódio, porém, não me furto ou furtarei de repartir a responsabilidade pelo erro e por todo prejuízo inegavelmente causado ao Clube, mas, como a dor se restringia apenas a minha pessoa era plenamente administrável, contudo, a situação mudou.

Não posso admitir que as pessoas mais importantes na minha vida sofram por minha causa. Não posso admitir as lágrimas da minha mãe e irmã indignadas com o vilipêndio da minha imagem como homem, pai de família e profissional. Não posso admitir as lágrimas da minha esposa, tantas vezes sacrificada com minha ausência, com minha equiparação a bandidos, corruptos e outras figuras merecedoras dos “Judas de aleluia”. Não posso admitir e não entendo a valorização de um episódio que em nada contribui e só machuca os envolvidos e suas famílias pela imprensa local sempre tão bem atendida e que mesmo em superficial leitura é uma das mais beneficiadas pela ascensão do SÃO RAIMUNDO no cenário regional e nacional. É difícil entender a preferência pelo ruim em detrimento do bom.

Assim amigo, externando meu profundo agradecimento pela confiança e pela honra de ter podido ostentar o título de Diretor do SÃO RAIMUNDO ESPORTE CLUBE por mais de meia década e, principalmente, de ter tido o privilégio de conhecer você, Silvio Tadeu, Rosimar e Olavo Bastos, Valtinho, Osvaldo Paulista, Neguinho, Tio, Dineli, Carpegiane, o Zé Neves, Beto Tolentino, Jardel, Júnior Tapajós e tantos outros a quem peço desculpa pela indelicadeza de não nominá-los, que sempre me trataram com carinho e respeito, peço, como dito no adágio popular, meu boné e licença para me retirar.

Saio, porém deixo claro que não pelas críticas ou por ter cometido qualquer falha pessoal e/ou profissional. Saio por ter responsabilidade com quem me ama a quem não posso legar a dor de uma agressão desmotivada e irresponsável.

Volto para os braços da minha família com o sentimento do dever cumprido.

Você, assim como todos meus amigos, sabe onde me encontrar, precisando é só chamar, minha porta e meu coração sempre estarão abertos para o SÃO RAIMUNDO ESPORTE CLUBE que me deu mais do que eu merecia.

Atenciosamente.

ANDRÉ CAVALCANTE
ALVINEGRO HOJE E SEMPRE
Fonte: Blog do Jeso

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