Condenação

Lúcio Flávio Pinto

Luíza Erundina foi condenada a pagar uma multa no valor de 350 mil reais por ter pagado com recursos públicos um anúncio, no qual defendia sua administração, quando prefeita de São Paulo, a primeira do PT na maior cidade do país, entre 1989 e 1992. Quando assumiu o cargo e o segundo maior orçamento público do país, Erundina era dona de um apartamento de 74 metros quadrados na pouco valorizada zona sul da capital paulista, um imóvel em João Pessoa, na Paraíba (sua terra natal), e financiamento de um apartamento em Santos. Seu patrimônio incluía ainda um automóvel Fiat. Ao encerrar seu mandato, permanecia com os mesmos bens, que constituem sua riqueza ainda hoje, quando exerce o mandato de deputada federal.

Para a quitação do débito, o imóvel de Erundina foi penhorado. Os amigos correm contra o tempo para evitar que ele seja leiloado. No primeiro jantar organizado para recolher fundos, a arrecadação foi de 25 mil reais, nem 10% da multa. Talvez a condenação tenha total amparo legal, mas muito homem público fez mais e pior do que Erundina e continua não só impune como livre de qualquer processo. No caso da deputada do PSB, não há dúvida, mesmo dentre os que a condenaram, que ela não se beneficiou do uso da verba pública. Apenas seu uso foi irregular. Um pecado venial recebe penitência rigorosa, o que causa perplexidade na terra da impunidade.

Luíza Erundina era respeitada e admirada mesmo quando circulava pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, onde fazia o mestrado em ciências sociais. Cruzamo-nos algumas vezes naquela escola, de saudosa memória, mas sem intimidade. Víamos só circunstancialmente os alunos de serviço social e de biblioteconomia, que dividiam as instalações conosco, futuros bacharéis em sociologia, dentre os quais o mais notável é o atual ministro do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski.Registro o fato para dizer que a sertaneja Erundina continua a me provocar admiração. Sem reclamar, está procurando cumprir a decisão que a penalizou. Talvez os incrédulos e céticos se perguntem como é que uma deputada federal não está numa condição melhor, com a renda e as mordomias que tem. É porque Erundina vive do que ganha e o divide com sua família numerosa, da qual é o esteio.Ela pode ter errado, mas é uma mulher de raça e de respeito. O Brasil estaria bem melhor se os pecados dos seus políticos, dos seus dirigentes e da sua elite fossem do tipo que provocou a condenação de Luíza Erundina.
Fonte: O Estado do Tapajos On Line

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