Adeus ao som do carimbó





Mestre Verequete recebeu diversas homenagens durante o velório e cortejo nas ruas de belém até o cemitério

O carimbó tocado por mestre Verequete marcou o velório e cortejo fúnebre do início ao fim, ontem. Açougueiro que se tornou compositor, cantor e símbolo do ritmo paraense, ele recebeu várias homenagens dos amigos, admiradores, artistas e autoridades. As palavras de reconhecimento foram acompanhadas da esperança de que a morte dele não faça o carimbó também perecer.

O corpo de Verequete foi velado desde terça à noite até o início da tarde de ontem no Teatro da Paz. Dezenas de pessoas estiveram lá para prestar as homenagens, dentre elas os integrantes de nove grupos folclóricos que há anos têm suas apresentações animadas pela música dele.

O refrão de uma delas, o 'chama Verequete' foi repetido exaustivamente durante o cortejo que saiu do teatro até um cemitério de Marituba, seja pelo músico Bibi da Amazônia, pela caixa de som carregada em uma bicicleta ou pelo mestre Curica, das Guitarradas.

Mestre Curica cantou com sua banda durante todo o percurso, em carro aberto que acompanhou o carro dos Bombeiros onde o corpo foi levado. Ele contou que atendeu um pedido de Verequete, considerado um pai e exemplo de respeito, educação e humildade. A lealdade o fez prometer que tocará com a banda Uirapuru sempre que for necessário. 'Enquanto vida eu tiver, o carimbó não vai morrer', disse.

Se depender de outros artistas e admiradores de Verequete, também não. Alguns, como o cantor Eloy Iglesias, até acreditam que a morte servirá para impulsionar a valorização do ritmo e, quem sabe, a titulação do carimbó como patrimônio cultural do país.

Para Iglesias, a morte é triste, mas há a felicidade pelo legado que ele deixou. 'Ele era uma pessoa humilde, simples, que virou estrela, símbolo, bandeira do Pará. Vai fazer falta como compositor, mas a obra é tão grande que não podemos ficar completamente tristes', comentou.

Pobreza foi incompatível com o talento

O músico Bibi da Amazônia também viu aumentar a admiração por Verequete à medida que o conheceu pessoalmente. Ele diz que a música do mestre influenciou sua produção artística, mas o reconhecimento não ajudou o artista a ser mais valorizado.

'Não foi reconhecido na sua própria terra. Não admito que Vereque, que tinha talentos, que nasceu aqui, criou um ritmo tenha morrido pobre', lamentou.

Para o artista, a pobreza financeira foi incompatível com a produção artística brasileira que ele considera tão importante quanto a de Caetano Veloso e Gilberto Gil. 'Verequete está no mesmo patamar, mas morreu pobre. Mas história vai permanecer. Meus filhos e seus filhos vão aprender com ele'.

Cantor defende maior difusão do ritmo e retomada de festivais

Eloy Iglesias defende que o carimbó que Verequete ajudou a difundir seja mais valorizado desde as escolas até a retomada de festivais. Em Mosqueiro existia o Festival do Cupuaçu, lembra, evento em que fez a abertura do show de Verequete.

Para Iglesias, a valorização é necessária porque o carimbó é uma cultura própria, local. Cultura que a dona de casa Ana Pantoja Maria, de 74 anos, aprendeu a gostar através do rádio e que ontem a fez render homenagens a Verequete.

'Ele era a alegria do povo', comentou. Diferente dela, o operário dos Portos, Ruberval Bentes, passou a gostar ainda mais do carimbó por causa do contato diário com o cantor, de quem era vizinho. Vestido como o mestre, de calça e blusca brancas e chapéu preto, ele foi um rei da música como Roberto Carlos e outros ídolos nacionais.

'Daqui a dez, vinte, trinta anos, quando se falar em carimbó, vai se falar dele porque ele era o mais completo. Era cantor, compositor. Cantava sirimbó, carimbó e siriá. Assim como outros cantores que são reis, ele tem músicas que marcaram nossas vidas', disse.

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