Beirada do Tapajós: uma sugestão para uso e ocupação racional


por Erik Jenings


Erik Jennings Acho que esta questão de carro e moto na praia está próxima a ser resolvida. Infelizmente a solução deverá ser resultado do caos e não de um ordenamento público liderado pelas autoridades do município, como deveria ser.

A praia não é, nunca foi e não será via de acesso as comunidades, por veículos motorizados. Andar com caro e moto na praia, ou mesmo deixá-los estacionados, vai contra a Lei No. 15.505/95 que regulamenta a atividade náutica e de lazer nos balneários de Santarém, e contra o plano diretor da cidade (art. 137) e previsto multa pela portaria municipal de 1999. Porém, não podemos negar que toda essa orla está sendo ocupada pela iniciativa privada e negligenciada pelo poder público.

Muitas pessoas poderão no futuro ter dificuldades para aproveitarem as praias por falta de acesso ou por não terem onde deixar o carro. Toda a beira já tem um dono, inclusive eu, muitos amigos, utilizando ou não o terreno. No meu caso, não se trata uma casa de final de semana, mas sim minha residência por mais de dez anos. Por outro lado, assim como no campo, as comunidades estão sendo cada vez mais afastadas de seus locais de origem. Migram para um local um pouco mais distante da margem ou vão para a cidade. Em uma situação intermediária, sobrevivem algumas comunidades da economia de serviços prestados nos finais de semana, muitas vezes em condições instáveis de trabalho e sem estrutura de saneamento.

A implementação de uma política de ocupação da orla fluvial de Santarém é necessária. Está na hora do poder público definir algumas áreas, para as pessoas que não possuem propriedades e que não queiram ir de barco terem acesso a esta orla fluvial. Um espaço público.

Um lugar onde proprietários de veículos possam estacionar com segurança e descerem, andando, obviamente, para aproveitarem as praias. Este mesmo local pode oferecer, além do estacionamento, estrutura para atar uma rede, coletores de lixo, armários e serviço de comunicação. Estaria localizado na beira do rio, mas não na praia. Seria então na “beirada”. O poder público ordenaria e a comunidade exploraria os serviços, com parte da renda revertida para melhorias estruturais. Coisa simples, sem muito custo, porém sustentável.

Algumas áreas, ficariam uma beleza com uma “Beirada”. Por exemplo, a ponta do Mureta, próximo a Alter –do- Chão não tem acesso, nem local onde deixar carros e motos. É uma praia belíssima. Tudo bem que podemos ir de barco, mas a demanda daqueles que vão de carro está cada vez maior. Se quisermos livrar de uma vez por todas as praias de carros e motos, temos que fiscalizar, denunciar, mas dar condições ao seu uso racional. Se regulamentada, e dado a oportunidade essa parcela da população também pode colaborar na preservação, deixando o carro fora da praia. Deixando-o na Beirada. Acho que ficaria bom uma Beirada do Mureta, Beirada do Jutuba, Beirada do Pajuçara, Beirada do Cururu.

Enquanto isso, andar de carro e moto na praia dá advertência e multa. Se a prefeitura não fiscaliza temos que fotografar as placas e mandarmos para quem tem o dever de tomar alguma providência. Desta forma estaremos colaborando para o poder público tomar providencias imediatas e quem sabe até implementar um projeto de uso e ocupação racional e sustentável, que poderá ser chamado de ZEE (Zoneamento ecológico econômico) da orla fluvial de uma de nossas maiores riquezas: as praias.

Mesmo sem locais públicos, hoje existem várias comunidades por onde se pode chegar as praias. De forma alguma a sugestão aqui proposta pode ser usada como desculpa para fazer da praia estacionamento ou pista de corrida. É mais uma preocupação com o futuro. Na situação atual andar de carro e moto na praia prejudica mais ainda a renda das comunidades ribeirinhas e afasta cada vez mais esta população do local de origem.

Deixo a idéia e discussão, lembrando que não devemos repetir experiências como as barracas do Maracanã ou as barracas do Pajuçara, porém temos que aproveitar a boa vontade daqueles que gostam deste rio e que necessitam de um local adequado para terem estacionamento e acesso as suas maravilhas, poderem apreciar um dos rios mais bonitos do mundo. Tomar um banho de água doce, sem gosto de óleo de carro, sem preocupação em ser atropelado e sem a feiúra de uma prática criminosa e insustentável em todos os sentidos.

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* É médico neurocirurgião e morador do Pajuçara.
Fonte: Blog do Jeso

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