Pesquisa do sobrenatural

Estudo de alunas da Uepa tem 520 depoimentos de funcionários do CPC Renato chaves sobre fantasmas

Vultos brancos, maçanetas que se mexem sozinhas e mulheres parecidas com espíritos vagando entre corredores soturnos. Os elementos, perfeitos para um conto de suspense, compõe os relatos dos funcionários do Centro de Perícias Científicas Renato Chaves (CPCRC). O órgão é responsável pela avaliação da causa mortis das pessoas, muitas vezes provocada por crimes brutais ou acidentes trágicos. Coexistem no mesmo ambiente os significados possíveis da morte e o peso do saber científico. A constatação foi um dos motivos que instigou o professor Maurício Costa a orientar a pesquisa 'Um estudo antropológico de casos sobrenaturais ocorridos no Centro de Perícias Científicas Renato Chaves', das alunas Cintia Sarraf e Milena Ramos, da Universidade do Estado do Pará (Uepa).

O material reúne mais de 520 depoimentos de profissionais, de diversas áreas do CPCRC, relacionados a eventos sobrenaturais, religiosidade e superstição. A intenção do estudo não era analisar se assombrações são produtos reais ou imaginários, e sim observar a relação das pessoas com a cultura criada a partir da ideia de morte e como isso pode influenciar a percepção de quem lida diariamente com o acontecimento.

O professor Maurício Costa explica que inicialmente os entrevistados não admitiam ter visto nada de natureza incomum. Apenas com o desenrolar do estudo, as crenças no desconhecido foram se revelando. 'O interessante é perceber que os cientistas tinham uma certa reserva ao assumir contato com o mundo espiritual. Eles não acreditam, mas não duvidam, e sempre conhecem alguém que presenciou esses casos. Já os técnicos tinham menos pudor ao expor suas certezas', compara o professor. 'Essa mobilização em torno da morte está ligada também aos valores culturais do indivíduo, em que a morte pode ser encarada como um tabu ou uma passagem para outro lugar', ele argumenta, ao explicar as razões pelas quais é frequente o sobrenatural prevalecer em questões insóluveis.

Imaginário é rico em lendas na região

Ainda de acordo com o professor, é importante enfatizar que a pesquisa foi realizada considerando o imaginário popular amplo da Amazônia. 'Aqui nós temos visagens, lendas próprias da região, principalmente no interior. Elas são transferidas para a vida urbana. A mulher do táxi, por exemplo, agrega o elemento urbano - o táxi - com as histórias de assombração contadas em narrativas amazônicas', completa Maurício. Entre os casos inusitados registrados pelos acadêmicos estão a maçaneta que parecia se mexer sozinha no necrotério, uma senhora de vestido azul que subia uma rampa para ir à sala onde ficam os cadáveres e o vulto branco visível através do vidro transparente.

Para aguçar o ânimo dos mais céticos, o auxiliar técnico de necropsia Paulo Silva conta sua experiência. 'Há três anos, eu e mais dois amigos estávamos na frente do prédio. De repente, nós vimos uma jovem subindo a rampa, próxima à entrada do necrotério. Como era de manhã, entre 10 e 11 horas, pensamos que era uma funcionária. Quisemos dar um susto nela, mas quando fomos olhar lá dentro, não havia ninguém ali', diz o funcionário. O diretor do Renato Chaves, Juvenal Araújo, por sua vez, afirma nunca ter visto manifestações sobrenaturais no local.

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