Moradores de Santarém ouvidos pelo G1 apoiam separação do Pará
Qualidade do atendimento na saúde é uma das principais reclamações.
Paraenses vão às urnas em 11 de dezembro para votar em plebiscito.
A vida dos moradores das comunidades de Santarém, cotada para ser a
capital de Tapajós caso a divisão do estado do Pará seja aprovada em
plebiscito no dia 11 de dezembro, gira em torno dos rios Tapajós e
Amazonas. É deles que os moradores tiram o sustento e onde passam a
maior parte do tempo, pois as viagens de barco duram entre 5 e 20 horas.
O G1 percorreu o Pará por dez dias para ouvir o que o povo pensa sobre a possível separação.Em outra embarcação, a professora Ivanilde Costa também diz que votaria no “sim” à separação do Pará. “Aqui não tem emprego, a população jovem tem que ir embora para estudar e crescer. A separação seria uma forma de nós definirmos nosso próprio futuro”.
A mesma impressão relatou ter a dona de casa Cleumira Motta, que pela manhã faz ginástica em uma academia pública montada em uma praça. “Montamos na igreja e na nossa comunidade um grupo para estudar e analisar o que era melhor para Santarém. Chegamos à conclusão que, dentre os pontos positivos e negativos, só temos a ganhar. Por isso, todo mundo aqui vai votar pelo ‘sim’. Eu tenho até adesivo colado na porta da minha casa e no carro. Queremos a separação para poder crescer”, diz.
ginástica em praça (Foto: Tahiane Stochero/G1)
sujeira (Foto: Tahiane Stochero/G1)
Uma das principais reclamações dos santarenos é quanto à qualidade do atendimento na área da saúde. O hospital municipal da cidade é superlotado. Todos os pacientes que chegam de comunidades vizinhas são levados para lá, onde são analisados por médicos e, se necessário, recebem a recomendação de transferência para o Hospital Regional de Santarém.
Os hospitais são dois extremos: enquanto o primeiro é sujo, com mau cheiro e superlotado; o segundo é limpo, com música ambiente e bem higienizado. Neste, também há filas, mas a maioria para consultas pré-agendadas ou realização de exames.
“Você não está sentindo cheiro ruim aqui dentro? E tem muita sujeira. Não limpam”, reclama a agricultora Idelina Nogueira, que acompanhava uma tia com problemas cardíacos e estava internada no hospital municipal. O G1 teve acesso a a unidade, inclusive a berçários e sala de parto, onde havia sujeira e sangue no chão.
de consultas fica lotado (Foto: Tahiane Stochero/G1)
“Somos paraenses, mas queremos que seja criado Tapajós. Eu vou votar no ‘sim’. Hoje, tudo depende de Belém. Minha irmã precisa de uma bolsa de colostomia que tem de vir da capital. Durante seis meses, ela ficou sem a bolsa e teve que comprar”, conta.
“Para nós, é difícil reclamar de qualquer serviço público. Sempre que se liga para uma central de atendimento, como para pedir reparos em iluminação ou telefonia, cai em Belém. Lá, ninguém sabe onde ficam as ruas em Santarém”, reclama Mércia.
O secretário de Saúde, Emmanuel Silva, diz que o Hospital Municipal de Santarém atende pacientes de 19 municípios vizinhos, realizando cerca de 400 atendimentos diários de emergência e bem mais que sua capacidade. Ele afirmou que uma licitação foi realizada para contratar nova empresa responsável pela limpeza do hospital.
em Santarém (Foto: Tahiane Stochero/G1)
Em Santarém, o G1 ouviu diversas vezes as frases “tudo depende de Belém” e “nos vermos independentes de Belém”, quando questionava a população sobre o motivo da separação.
Até mesmo a desempregada Maria Soares, que invadiu uma das unidades habitacionais que estão sendo construídas com investimento do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) no bairro do Uruará, usou a expressão.
O secretário municipal de Planejamento, Everaldo Martins, diz que, apesar de paralisações temporárias, as obras do PAC em Uruará foram retomadas e que, até o fim ano, a prefeitura deve entregar mais de 100 casas. “Algumas famílias que invadiram as casas em construção estão cadastradas e têm direito às moradias. As que não têm direito terão que sair assim que a obra ficar pronta”, afirma Martins.
Um dos pontos turísticos de Santarém é um paraíso perdido na Amazônia. As praias de rio de Alter do Chão atraem curiosos do mundo inteiro. Mas as pessoas que moram ali não estão satisfeitas. Acreditam que o governo paraense aplica pouco no turismo e que só com a criação de Tapajós haverá desenvolvimento.
(Foto: Tahiane Stochero/G1)
PlebiscitoOs eleitores do Pará irão à urnas em 11 de dezembro para responder a duas perguntas: “Você é a favor da divisão do estado do Pará para a criação do estado do Carajás?” e “Você é a favor da divisão do estado do Pará para a criação do estado do Tapajós?”.
Em um possível cenário de divisão do Pará, o futuro estado de Carajás será composto por 39 municípios, tendo Marabá como capital; o estado de Tapajós, 27 municípios, e Santarém como capital; e o novo Pará, 77 municípios, e Belém continuaria sendo a capital.
Fonte: G1
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